terça-feira, 26 de abril de 2011

A Emergência do Feedback

A meu ver, a gestão da Educação, em geral, e da Educação Especial, em particular, beneficia ao estar ligada a técnicas procedimentais de gestão de pessoas, particularmente quando a rede é alargada à comunidade educativa.

Entre outras ferramentas, o feedback de toda e qualquer tipo de situação comunicacional é imprescindível para optimizar e rentabilizar os resultados e as trocas interrelacionais entre o Docente Especializado em Educação Especial e todos os papéis humanizados da comunidade educativa. As comunicações corporal, oral e escrita mobilizam-se com melhor facilidade num canal aberto entre as partes, com o intuito de possibilitar auto-correcções guiadas e hetero-correcções orientadas e focalizadas em percursos específicos.

O Docente de Educação Especial mantém uma interacção sistemática (semanal) com os Encarregados de Educação e/ou pessoas que os representem, a fim de colocá-los ao corrente do desenvolvimento integral dos educandos; dar-lhes as coordenadas para intervirem com eles no seio do lar; responsabilizando-os pelo acompanhamento académico após as aulas, no estudo diário, na resolução dos trabalhos de casa, pesquisas e trabalhos de grupo; comprometendo-os com o sucesso dos alunos. Eles têm que sentir que, em casa, são eles os professores, no trabalho em parceria com a escola.

Eles são a chave-mestra que fornece ao profissional o historial académico, clínico e psicológico, com toda a informação necessária (oralmente, através de relatórios, documentos) para melhor intervir com a respectiva equipa multidisciplinar (composta por terapeutas, psicólogos docentes, médicos, …).

O modo assertivo com que o Docente de Educação Especial comunica com os Encarregados de Educação conduz a um relacionamento transparente, de entreajuda e cooperante. Há que saber gerir toda a informação complementar disponibilizada, bem como as interacções relacionais emotivas, canalizando-as para o desenvolvimento biopsicossocial dos educandos abrangidos pelas medidas regentes pelo DL 3/2008, de 18 Janeiro, juntamente com o Despacho n.º 6/2009.
No âmbito da preparação e organização das actividades lectivas, o Docente Especializado em Educação Especial faz um diagnóstico personalizado e actualizado, a cada aluno em particular, aos respectivos Encarregados de Educação, aos Directores de Turma e aos docentes das várias disciplinas, por meio de diversas modalidades de apoio; observação directa dos comportamentos; as expressões corporal, oral e escrita; conversações informais e formais; consulta de processos; anotações e grelhas de registo.

No que concerne à avaliação das aprendizagens dos alunos, a auto-avaliação e a hetero-avaliação têm que ser, por nós, Docentes de Educação Especial, consideradas como processos constantes e partes integrantes da aquisição, apreensão, aplicação e transferência de conhecimentos, saberes e valores. Não podemos fazer da avaliação apenas “momentos” periódicos de reflexão, mas, sobretudo, devemos orientar os nossos educandos para a auto-análise reflexiva de condutas comportamentais, aprendizagem pelo erro, através de permanentes feedback’s, situações do quotidiano, partilha de saberes e experiências. Devemos encarar a avaliação no seu todo e mudar as visões dos nossos alunos que, algumas vezes, apenas a encaram pelas partes (testes sumativos e assiduidade). Com os permanentes feedback’s objectivamos remover os comportamentos inadequados e reforçar os mais apropriados.

Com o feedback, o Docente de Educação Especial é, simultaneamente, o coach e o líder dos seus alunos; ambos, pela proximidade da relação, querem pôr em comum os saberes, os afectos e as condutas comportamentais. Os alunos tomam-no como líder quando o procuram nos “furos” do seu horário, quando “desabafam” o que de mais íntimo e preocupante há em si; quando pedem conselhos, por meio do seu vocabulário simplista; quando, sentimentalistas, nos pedem que fiquemos com eles para o próximo ano lectivo. Eles não nos escolheram para estar com eles, mas aceitam-nos e respeitam-nos! Toda a sua pronúncia corporal tem sede de um desenvolvimento integral e harmonioso de regras e limites. Há momentos em que eles querem ser como nós (e dizem-nos!) e querem aprender connosco.

Para proporcionar um desenvolvimento profícuo a cada aluno, o Docente de Educação Especial tem que pôr em comum, por meio de constantes trocas comunicacionais, a informação de que dispõe dos alunos aos seus intervenientes diários e directos (directores de turma e docentes das várias disciplinas). As relações devem ser simpáticas, sobretudo empáticas, e próximas de todos os elementos constituintes das estruturas de orientação educativa, bem como os responsáveis pelos órgãos de gestão da escola. A proximidade não se faz apenas da presença corpórea, mas também dos contactos telefónicos e de e-mail.

No meio de todo este processo, o feedback extrapola-se quando o Docente de Educação Especial se mantém actualizado das directrizes a seguir, partilhadas e comunicadas pela sua chefia intermédia. As respostas têm que ser conducentes com as requisições que lhe são feitas e deve-lhe ser proporcionada a capacidade de questionar metodologias pouco funcionais, ao nível do trabalho com os alunos e com os docentes das várias disciplinas, tentando, sempre, ser útil na partilha de ideias, inovações e materiais vários. É óptimo que o Docente de Educação Especial peça feedback do seu modo de actuação para manter, substituir ou inovar práticas pedagógicas.

Sendo os Auxiliares da Acção Educativa, por mim apelidados, “os professores do recreio”, mediante as trocas/interacções relacionais que estabelecem com os alunos, docentes e chefias, conhecem o reverso da moeda de todos estes intervenientes. O feedback e a entreajuda que eles proporcionam ao Docente de Educação Especial é feito na mesma medida em que este lhes proporciona, em prol do desenvolvimento das competências relacionais e comportamentais dos alunos. A clareza na transmissão recíproca de informações e a transparência no modo conjunto de actuação faz com que estes funcionários se sintam contribuintes indispensáveis, no alcance do sucesso escolar dos alunos com Necessidades Educativas Especiais.

É de reter que o feedback apenas produz frutos sãos se as relações estabelecidas forem baseadas no respeito mútuo, na sinceridade dos factos, na escuta activa das opiniões, no envolvimento das partes, na optimização da motivação, na recepção da crítica construtiva e na arte de elogiar contextualizadamente.

Quanto mais transparente for o feedback, maior confiança e credibilidade ele terá na sua forma (relação interrelacional) e no seu conteúdo (aspectos com vista à mudança). O feedback é um processo cooperativo que requer treino, pois a natureza humana tende para a exaltação individual e a subestimação colectiva.


2º artigo de opinião semanal de Olga Narciso Vasconcelos

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