terça-feira, 10 de maio de 2011

O Papel do Coaching, do Counseling e do Mentoring na Equipa Multidisciplinar do Ensino Especializado em Educação Especial

As três terminologias objectivam impulsionar, optimizar e mobilizar o desempenho da cada interveniente no processo educativo-pedagógico do aluno, com estratégias diferenciadas, pelo cultivo das habilidades interpessoais.

Uma equipa multidisciplinar, do Ensino Especial, está consciente de que cada elemento é uma peça fundamental para o motor funcionar em uníssono e sequência. Umas com as outras, na partilha de know-how e experiências vividas, as Pessoas aprendem a aprender, aprendem a ensinar, aprendem a adequar cada gesto, cada palavra e cada aprendizagem ao respectivo receptor e contexto situacional, aprender a inovar e a expandir o que de melhor conseguem transmitir de si mesmas.

A Educação Especial não sobrevive com sucesso, em prol do bem-estar dos alunos e do seu meio familiar, sem trabalho cooperativo. As pessoas, com as suas diferenças e individualidades (não confundir com individualistas) são o recurso mais nobre, logo têm que ser explicitamente valorizadas, recompensadas e desafiadas, no próprio local de trabalho, existindo um auxílio mútuo no desenvolvimento aperfeiçoado de cada um. Nesta perspectiva, encarregados de educação, médicos, docentes de educação especial, psicólogos, técnicos (terapeutas ocupacionais e da fala), docentes de apoio e docentes das várias disciplinas, interagem na partilha oral e escrita de documentos, relatórios, na prática de actividades individuais, e em grupo, que visam que os alunos alcancem determinados objectivos e que venham a apetrechar-se de competências técnicas e comportamentais específicas.

Cada um destes elementos utiliza os princípios de coaching, aconselhando, orientando e desenvolvendo o outro, com base na sua área de formação, sem que para isso tenha que exercer um cargo de chefia ou de coordenação sob o outro. O psicólogo apetrecha-se de noções pedagógicas; o docente alarga os horizontes na área da psicologia; o encarregado de educação aprende com os técnicos terapeutas a aplicar exercícios personalizados ao seu educando, no lar; todos nos complementamos e fazemos parte de um só corpo, aprendendo continuamente uns com os outros.

Existem variadíssimas situações em que o Docente Especializado em Educação Especial assume características de Coach, no desempenhar da sua função, nomeadamente; quando aconselha, envolve, orienta e responsabiliza os encarregados de educação na vida escolar dos educandos, com constante feedback e controlo da situação, de modo presencial e/ou telefónico; quando auxilia os docentes das outras disciplinas nas metodologias estratégicas a serem aplicadas em aula, nos conteúdos a seleccionar e a incidir, nas práticas a adoptar, nos recursos físicos a utilizar, na elaboração de fichas de trabalho e de testes de avaliação sumativa; na construção dos relatórios obrigatórios, por lei. De um modo geral, todos os que convergem para o mesmo trabalho, auxiliam e são, simultaneamente, auxiliados por ele. Esta orientação recíproca desemboca no elevado desempenho do potencial de cada parte.

O aconselhamento (counseling) encontra-se presente quando, num trabalho supostamente cooperativo encontramos colaboradores resistentes e muito agarrados ao imutável. Qualquer um dos elementos da equipa multidisciplinar pode ter que beneficiar de uma interacção mais personalizada e direccionada com vista à mudança de atitude e expansão de mentalidade.

Dentro do círculo da equipa multidisciplinar dos SE, o mentoring (acompanhamento) é reservado aos talentos e aos CAP – Colaboradores de Alto Potencial – valorizando-os e ajudando-os a progredir, pelo trabalho notável que desempenham, tornando-os aliados para atingir as metas em comum. No contacto com estes colaboradores talentosos, nós também tiramos vantagens neste relacionamento. No mentoring, o processo de aprendizagem é intensificado e a obtenção de resultados, a curto prazo, é viável. As apostas recaem nos Docentes de Educação Especial recém-especializados, que ainda são "caloiros" no ensino, mas surgem ávidos pela oportunidade de trabalho que lhes foi dada, portadores de novas metodologias e estratégias e repletos de criatividade e motivados em inovar. A lealdade ainda se constrói, mesmo nos dias de hoje, especialmente se eles se aperceberem que o seu mentor se preocupa com eles e atenta nas habilidades de execução dos seus trabalhos. É pouco provável que estes docentes procurem outro estabelecimento de ensino se o seu mentor os ajuda a desenvolver profissionalmente e ainda reduz a rotatividade na empresa.

O Docente de Educação Especial ajuda não só os alunos a conseguirem dar o que de melhor têm em si, bem como orienta os docentes das várias disciplinas a trabalharem neste sentido. Acredita que tanto os alunos como os professores querem agir correctamente, revelar um trabalho sólido e congruente e serem reconhecidos e valorizados pelos seus feitos meritórios. No caso dos alunos, através de uma classificação acima da média. No caso dos docentes, através de um desempenho ético-profissional exemplar e de ascensão laboral.

O Docente de Educação Especial, com a equipa multidisciplinar, estabelece metas SMART (específicas, mensuráveis, atingíveis, realísticas e temporais), com base no estabelecimento de ensino e na realidade da problemática do aluno; organiza as informações úteis e necessárias a serem focadas nas reuniões e relembra a cada colega datas, prazos e compromissos; facilita a comunicação pelo encorajamento e partilha de opiniões divergentes; resume os retrocessos e os avanços da sua parte e do todo (equipa), através da oralidade, em grupo, ou por meio da auto-avaliação escrita; desenvolve colegas na sua missão, adoptando o papel de tutor.

O Docente de Educação Especial está a fazer coaching com os seus alunos quando é um modelo comportamental de excelência e age em conformidade com os conselhos que dá. Encoraja-lhes o crescimento no meio de um ambiente positivo, no qual são destacados os seus pontos fortes, bem como toda e qualquer melhoria de desempenho. Ensina-lhes que os erros deles são como oportunidades de aprendizagem/melhoria. Explica-lhes claramente o que espera deles, encorajando-os a irem mais além (“stretch”). Clarifica-lhes que o mais importante das suas falhas de desempenho é o modo de como podem ser melhoradas. É evidente como, após estes reforços psicológicos, a auto-confiança deles sai revigorada. Deste modo, a delegação de tarefas simples (recados e avisos aos vários intervenientes no estabelecimento de ensino) já é possível de modo a que eles se apercebam que está a ser feita uma construção sobre o potencial de cada um.

O sucesso das acções repetidas não é imediato, pode advir após várias tentativas. O apoio oportuno (auto-valorização) continua a ser imprescindível. Numa turma do ensino regular, com o currículo comum, eles são, automaticamente, rotulados de preguiçosos, lentos, pouco esforçados e por aí fora. Infelizmente, a nossa tradição caracteriza as pessoas, não os comportamentos… É aqui que o Docente de Educação Especial deve fazer toda a diferença e influenciar outros a fazê-la. Os problemas não crescem se forem enfrentados de imediato. Temos que lidar com eles há medida que forem surgindo.

Temos jovens com necessidades educativas especiais com desvios significativos na conduta comportamental os quais, cada vez que surgem, exigem respostas conducentes com a gravidade da situação. Iniciar com uma advertência verbal, alerta-o que o comportamento inadequado teve danos próprios e/ou a terceiros, foi notado tem que ser auto-analisado e reflectido, tem que mudar. Dependendo da gravidade e da ocorrência do comportamento, poderá (ou não) ser-lhe aplicada uma punição pelo expoente máximo da direcção da escola.

Em alguns casos, mais do que avaliar as competências técnicas e comportamentais dos alunos, temos que avaliar a sua motivação e a sua vontade para mudar.


4º artigo de opinião semanal de Olga Narciso Vasconcelos

terça-feira, 3 de maio de 2011

Valorização da Competência Emocional Interrelacional

A relação pedagógica estabelecida com os alunos com Necessidades Educativas Especiais, bem como com os pares destes, deve basear-se na interacção relacional empática. O Docente de Educação Especial deve cativá-los para moldá-los. Torná-los cidadãos mais cívicos e responsáveis e alunos mais optimistas, relacionais e motivados. Desta reciprocidade de trocas, os alunos tornam-no um profissional mais desenvolvido e competente, por meio dos desafios constantes a que está submetido. Esta partilha resulta numa proximidade relacional de aprendizagens, experiências e vivências que fomenta a ambos o auto e hetero conhecimento.

O verdadeiro Docente aprende com os alunos, para os alunos. Proporciona ferramentas de trabalho e directrizes de aprendizagem personalizadas para o desenvolvimento harmonioso das três competências, na maioria das vezes, todas combinadas, na alusão à prioridade comportamental (saber ser/estar), técnica (saber-fazer) e específica (saberes). Os saberes de nada adiantam se não tiverem aplicabilidade (saber-fazer). O saber-fazer é disfuncional se não se conjugar com o saber-estar/ser.

Alguns alunos com Necessidades Educativas Especiais são alunos desmotivados, com um índice elevado de absentismo, quando fisicamente presentes, evidenciam falta de participação espontânea e baixa produtividade. Se as estratégias do Docente de Educação Especial se apoiarem no desenvolvimento das competências emocionais interrelacionais dos alunos, de certo que irão ao encontro das suas reais necessidades. Diante factos, o Docente tem que encontrar argumentos concretizáveis. Perante a auto-questão “Dentro do que a escola/comunidade educativa oferece, como e que meios tenho ao meu dispor para motivar este aluno a identificar-se com a escola?”, o Especialista em Educação Especial deve trabalhar actividades meramente funcionais e que sejam significativas para o próprio aluno, no quotidiano, por meio de dinâmica de grupos; elevação do auto-conceito e da auto-estima; leitura funcional (horários, ticket’s, talões, publicidade); escrita funcional (envelope, carta, registo, aviso de recepção, preenchimento lacunar de interpretação, escolha múltipla de compreensão); cálculo funcional (ver as horas em qualquer relógio, com numeração árabe ou romana, sem numeração, uso prático do €uro, adições, subtracções, multiplicações e divisões simples e concretas); uso das TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação. A literacia digital possibilita a interactividade; a sociabilização; a partilha e a colaboração; a aprendizagem; a diversão; a ludicidade; a inclusão na educação; o desenvolvimento de potencialidades; o melhoramento da performance; discussão; troca de ideias e experiências; responsabilidade na dinamização da Web 2.0, na apropriação de um blog, na exploração do quadro interactivo, da sala de aula.

A par de todas estas estratégias, o Especializado em Educação Especial proporciona ao aluno realidades que lhe são desconhecidas, bem como outras vivências/experiências através de visitas de estudo ao património local e de contactos com cursos pré-profissionais, ponderando na transição para a vida activa.

Se algum aluno demonstrar deficiências na interacção relacional, partimos da premissa (na visão do aluno) “Gostar de mim reflecte-se no outro” e desenvolve-se um programa de desenvolvimento e elevação do auto-conceito/auto-estima que pode estar mascarado num programa de saúde alimentar e psicológica, consoante a real problemática do aluno.

Visto que alguns alunos com Necessidades Educativas Especiais têm um handicap que não é, fisicamente, visível aos olhos humanos, o Docente Especializado fá-los sentirem-se compreendidos e aceites pelos professores e pelo grande grupo turma, independentemente de haver uma diferença significativa no desenvolvimento das competências técnicas e comportamentais, comparativamente aos colegas.

A capacidade de ser resiliente é fundamental na lide diária das ansiedades e das lacunas, no trabalho cooperativo com os colegas docentes. A responsabilidade em mantê-los conscientes, envolvidos e comprometidos com os objectivos definidos, reduz-lhes as reacções defensivas e aumenta-lhes a produtividade.

O Docente de Educação Especial, dada a sua polivalência de actuações e o seu “tacto” e a sua sensibilidade ao abordar determinadas problemáticas pessoais, sociais, pedagógicas, médicas com pais/encarregados de educação, colegas docentes, alunos, coordenadores, entidades parceiras, equipa multidisciplinar dos SE, preserva os dez mandamentos:
1º Tratar as pessoas com respeito e consideração;
2º Parte da vida dos alunos e respectivos familiares/tutores próximos tomam um rumo diferente, consoante os conselhos e as decisões proferidos pelo Docente de Educação Especial;
3º A sinceridade, a simplicidade e a transparência são armas brancas que, quando utilizadas com convicção e determinação, não nos enfraquecem, mas fortalecem a nossa relação com os outros;
4º Admirar e elogiar q.b., mas sem restrições, quando sentir que o outro teve um comportamento conducente com o que expectava dele;
5º Adoptar o lema: elogiar em conjunto, criticar construtiva e individualizadamente, em privado;
6º Criar e manter um ambiente positivo, seguro, confortante e de cooperação mútua com a troca, partilha, divulgação de ideias, saberes, experiências entre toda a equipa de trabalho;
7º Atender à eliminação dos obstáculos que possam estar a bloquear a passagem e a transmissão de bons fluidos;
8º Ter presente que a aprendizagem pelo erro dota os alunos de variadíssimas competências cognitivas que perduram por maiores períodos de tempo;
9º Desempenhar uma multiplicidade de papéis dá resposta às reais necessidades momentâneas de cada interveniente do meio escolar, ao ser ouvinte;
10º Fazer uma escuta activa, ser conselheiro e dirigente, proporcionando feedback contínuo para que cada elemento da comunidade educativa o sinta próximo e parte integrante de todo um processo que é comum a todos.


3º artigo de opinião semanal de Olga Narciso Vasconcelos